quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A taxa Selic caiu de novo. E o quico?

Os veículos de comunicação dão grande destaque para todas as chamadas decisões de política monetária do Banco Central, que englobam uma série de medidas, mas principalmente as alterações na taxa básica de juro brasileira, a Selic.

  • A Selic serve como uma referência para todas as taxas de juros praticadas no Brasil;
  • Já a política monetária está ligada à liquidez do sistema financeiro de um país, ou seja, a quantidade de moeda em circulação (o dinheiro que a gente deposita e empresta do banco, por exemplo).

Periodicamente, o Copom (Comitê de Política Monetária), órgão ligado ao Banco Central, reúne-se para discutir a política monetária brasileira e avaliar se é necessária alguma alteração na taxa Selic. Ontem aconteceu uma dessas reuniões e a decisão foi uma nova redução da Selic para 7,5%.

O Brasil tem passado nos últimos meses por uma política de alívio monetário, ou seja, uma sequência de quedas da taxa Selic. Chama-se alívio porque com taxas de juros mais baixas, o acesso ao crédito é facilitado, ou seja, fica mais fácil o dinheiro circular. Esse atual ciclo de quedas começou em julho do ano passado, quando a taxa Selic estava em 12,50%. De lá até ontem, o Banco Central já reduziu o juro básico brasileiro em 5 pontos percentuais!

Outra novidade é que o nível atual de 7,5% é uma nova mínima histórica. A taxa Selic nunca foi tão baixa no Brasil. Isso é bastante relevante em um país conhecido por seus juros altos. E vocês sabem bem disso, sentem na pele (vejam meu post anterior sobre o endividamento dos brasileiros). Esse novo comportamento do governo mostra que, independente da intenção, existe um empenho em reverter ou, pelo menos, enfraquecer essa fama. Para efeito de comparação, historicamente, a taxa básica de juro brasileira costuma ficar em dois dígitos e chegou a 45% em 1999.

Entretanto, ainda temos um longo caminho a percorrer. Nos EUA, por exemplo, a taxa básica de juro está no intervalo entre 0 e 0,25% ao ano. Na zona do euro, em 0,75%.

É muito comum ligar a política de alívio monetário (queda dos juros) a uma política econômica expansionista, ou seja, que visa estimular o crescimento de um país. Juros mais baixos significam crédito facilitado. Crédito facilitado significa mais investimentos (eu posso pegar um empréstimo para expandir minha empresa a um custo mais baixo, ou seja, pagando juros menores no financiamento). Mais investimentos significam expansão da economia, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).

  • PIB é a soma de tudo o que é produzido em um país, incluindo bens e serviços.

Para fechar o raciocínio, vamos ver o resultado mais recente do PIB brasileiro? No primeiro trimestre deste ano, a economia do país cresceu apenas 0,2% na comparação com o quarto trimestre de 2011. Se mantiver esse ritmo nos próximos trimestres, a economia crescerá apenas 0,8% neste ano, resultado bem abaixo da meta oficial do governo de expansão de 4,5% em 2013.

Assim fica mais fácil entender por que o governo brasileiro quer reduzir os juros, não fica? E consequentemente também por que EUA e Europa, assombrados pela crise, têm buscado manter suas taxas de juros nos menores níveis possíveis.

A moda agora é o anúncio de novas medidas de estímulo à economia brasileira. A redução da taxa Selic é uma delas, que vem ao encontro da pressão recente para que os bancos reduzissem os juros cobrados de seus clientes. Lembram disso? Outro exemplo é o prolongamento da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre carros e eletrodomésticos anunciada nesta semana. Menos impostos, menor preço, as pessoas compram mais e mantêm a economia girando.

Amanhã serão divulgados os números do PIB brasileiro no segundo trimestre deste ano. Fiquem de olho! Acompanhando essas notícias econômicas que, aparentemente nada têm em comum, podemos antecipar o que está por vir e nos planejar. E tenham a certeza de que se vocês não estão fazendo isso, têm muita gente fazendo no lugar de vocês e visando interesses que certamente não são os seus.

ATUALIZADO EM 5/9/2012:

O PIB brasileiro cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre deste ano. Além disso, a expansão do primeiro trimestre foi revisada para baixo de 0,2% para 0,1%.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Por que o brasileiro está endividado e o que podemos fazer?

Um dos grandes temas eleitorais que marcou o governo Lula e segue forte com sua sucessora (lembrando que estamos em época de campanha de eleições municipais!) foi o fortalecimento da classe média. O poder de compra da população aumentou e consecutivamente o comércio aqueceu, mirando agora não apenas os mais ricos, mas também a chamada "classe média emergente".

Precisamos ficar alertas, entretanto, porque esse maior poder de compra não necessariamente se dá porque os salários aumentaram, as condições sociais melhoraram e a renda foi melhor distribuída. Grande parte desse novo cenário brasileiro aconteceu porque especialmente na última década o crédito está mais acessível, ou seja, ficou mais fácil tomar dinheiro emprestado, financiar carros, abrir crediários...

Logo, esse crescimento da atividade econômica brasileira dos últimos anos foi baseado, em grande parte, em um comportamento não sustentável. É fato: as pessoas compraram mais, mas, para isso, acabaram se endividando muito mais. Os efeitos dessa "conquista" que faz vários políticos encherem a boca nas campanhas eleitorais têm se mostrado evidentes especialmente nos últimos anos.

Um exemplo está hoje nesta matéria do jornal Folha de S.Paulo: Percentual de famílias com dívidas tem 3ª alta e chega a 59,8%. O levantamento considera as dívidas de cheque pré-datado, cartão de crédito, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros, despesas básicas da tal da classe média emergente.

E para comprovar como esse tema está, sim, entre as principais preocupações do governo, basta lembrar a campanha recente, iniciada pelos bancos públicos (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil), de corte de juros de vários produtos bancários. O movimento acabou sendo, inclusive, acompanhado pelos bancos privados, preocupados com a concorrência, mas também pressionados pelo Ministério da Fazenda.

As dívidas são uma dura realidade de grande parte dos brasileiros nos dias de hoje. Reverter essa situação não é uma tarefa fácil, exige muita paciência e disciplina, mas não é impossível. Veja algumas dicas:


  1. O primeiro passo é, sem medo, colocar na ponta do lápis a soma de TODAS as dívidas acumuladas (cartão de crédito, empréstimo pessoal, crediários) da família;
  2. Checar as taxas de juros de cada uma dessas dívidas. Entre os grandes bancos privados, os juros do cheque especial chegam a 10% ao mês, ou 220% ao ano. Isso significa que se sua conta ficar no negativo em R$ 1.000,00 hoje, daqui a um ano, você deverá ao banco R$ 2.200,00. Mais que o dobro da dívida inicial;
  3. Em seguida, contatar as instituições financeiras e checar qual o valor total da dívida se ela fosse quitada à vista hoje (há uma elevada taxa de juros embutida nos empréstimos, por conta de o pagamento ter ser adiado e não realizado na data da compra);
  4. Fazer uma lista com os gastos mensais da família (alimentação, escola, saúde), como se não houvesse dívidas, desconsiderando todas as parcelas a serem pagas. Checar quanto do orçamento mensal sobraria para o pagamento das dívidas. Por exemplo, uma família que ganhe R$ 4.000,00 e gaste R$ 3.000,00 poderia assumir uma parcela máxima de R$ 1.000,00 para quitar suas dívidas acumuladas;
  5. Pesquisar em diversos bancos as taxas de empréstimos pessoais de juros menores, como o crédito consignado (descontado diretamente do salário). Entre os bancos estatais, as taxas de juro do crédito consignado são de a partir de menos de 1,5% ao mês. A ideia aqui é fazer um único financiamento de TODAS as dívidas acumuladas até hoje (por isso é importante saber a somatória), pagando juros bem menores. ATENÇÃO: O mercado de crédito bancário está muito favorável para o consumidor negociar nos dias de hoje, justamente por conta desse estímulo do governo para a queda dos juros. Já é possível, inclusive, "levar" suas dívidas de um banco para outro que ofereça taxas de juros menores. Fique atento e não tenha medo de pechinchar!
  6. Depois de encontrar a melhor oferta entre os bancos, escolher um período para pagar (o prazo para pagar os empréstimos bancários também aumentou, em alguns casos para até 30 anos) que permita que as parcelas mensais caibam dentro do seu orçamento, conforme apontado no item 4;
  7. Por último e MAIS IMPORTANTE: conter os gastos. Com as dívidas renegociadas, a família pode respirar mais aliviada, mas deve viver em maior economia até as dívidas serem quitadas, para que a situação não saia do controle novamente;
  8. Muitas vezes por conta dos atrasos do pagamento das dívidas, as instituições enviam o nome do devedor para o SPC. Apesar da dor de cabeça (e do telefone que não vai parar de tocar por conta das empresas contratadas para a cobrança), as condições de renegociação de dívidas podem ser muito mais favoráveis. Em alguns casos, as dívidas podem cair pela metade, por conta do abatimento de boa parte dos juros, muitas vezes abusivos.
Não existe mágica. A melhor regra para se possuir uma vida financeira saudável é o planejamento financeiro. Isso, basicamente, significa juntar antes o dinheiro para depois comprar. Obviamente, para a compra de uma casa, o financiamento é bem vindo, mas uma decisão como essa, que comprometerá o orçamento por um longo período de tempo, deve ser muito bem pensada e avaliada.

Para nós, pobres mortais da classe média, a compra de um bem, na maior parte das vezes, deve implicar uma renúncia, ou várias, de outros bens no futuro. Por isso, é importante a participação de toda a família na tomada de decisões financeiras. Afinal, o que é combinado e ponderado antes, não deixa margem para questionamentos e cobranças posteriores. Vale para o dinheiro, vale para a vida.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Um espaço para (todo mundo) falar sobre economia

Eu gosto muito de Economia. Sim, gosto mesmo e não sou louca. Minha experiência profissional é amplamente focada nessa área, mas agora, que estou passando por um momento de reinvenção (e vocês podem saber mais sobre isso em outro blog que também estou inaugurando hoje: http://minhafantasticapenseira.blogspot.com.br), eu preferi deixar a Economia bem longe da minha vida profissional.

O problema é que, como acontece toda vez que eu tento tirar a Economia da minha vida, estou sentindo muito a falta dela. Então, a proposta aqui é dupla. Suprir a minha necessidade louca de falar sobre assunto e também mostrar a vocês que qualquer um pode falar sobre isso, ao contrário do que muita gente pensa.

A maioria dos veículos de comunicação apresenta as temáticas econômicas de forma muito complexa e inacessível. Há muitos termos específicos (é verdade!), mas que área não possui? Há muitas dinâmicas próprias, mas o que nesse mundo segue um padrão? Meu grande desafio aqui é justamente desvendar essas peculiaridades e mostrá-las não apenas como monstros. Elas podem se mostrar como temas de discussão bastante interessantes. Acreditem!

Mas a principal parte disso tudo é abrir um espaço de discussão para as pessoas comuns (não loucas, como eu, e que não necessariamente estejam familiarizadas com assuntos relacionados a Economia e Mercado Financeiro) e mostrar a enorme influência que esse mundo paralelo exerce sobre as nossas vidas.

E aí? Vamos lá? Sejam bem vindos!