terça-feira, 9 de julho de 2013

Eike Batista comprova: classe média sofre!

Preciso confessar que gosto muito do Eike Batista. Participei há alguns anos de um evento muito legal promovido pela Endeavor, em que uma das apresentações era justamente do Sr. X junto ao Pedro Moreira Salles, ex-Unibanco, que hoje, após a fusão com o Itaú, integra o Conselho do maior banco privado do Brasil.

Briga de gigantes. E ele, como sempre, irreverente. Não esqueço a forma como ele respondeu o Pedro quando ele fez uma piadinha sobre o fato de o Eike ter acabado de ser anunciado o oitavo homem mais rico do mundo pela Forbes:

--- Isso porque eu não sou banco. São vocês que estão no topo da cadeia alimentar.

O risinho sem graça do Pedro foi impagável. Afinal, tem melhor definição para uma empresa que capta dinheiro na poupança remunerando no máximo a 0,6% ao ano e empresta dinheiro a pelo menos 5%, 6%? A diferença desses percentuais chama-se spread bancário: o intervalo entre o quanto o banco paga para emprestar dos outros e o quando cobra para emprestar para os outros.

Em resumo, é assim que os bancos ganham MUITO dinheiro, o que explica o lucro exorbitante deles (que, para quem não sabe passa dos R$ 10 bilhões anuais). É ou não é o topo da cadeia alimentar?

Goste ou não do Eike, não dá para dizer que ele não é foda. Depois de 2008, enquanto o mundo desenvolvido desabava no desespero, o Brasil não enfrentava só uma simples "marolinha" do Lula. Mas o fato é que, em comparação aos EUA e à Europa, surfamos muito bem a onda da crise.

E lá estava o Eike, todo pomposo, aproveitando o bom momento do Brasil que decolava na capa da The Economist, dando início à captação de recursos para os seus gananciosos projetos de infraestrutura e logística.

Agora me digam: onde conseguir dinheiro para realizar o sonho do negócio próprio? Para nós, pobres mortais, com quem está no topo da cadeia alimentar, certo? Mas não para Eike. Ele foi até a bolsa e convenceu muito investidor marmanjo a injetar milhões nas primeiras empresas que dariam origem ao suntuoso grupo EBX (a letra X está presente nos nomes de todas as empresas do grupo por ser um fator multiplicador).

Suntuoso porque as empresas que nasciam ali, cheias de guidances (projeções, metas) e nenhuma produção até então, demandavam investimentos pesados. Os setores em que Eike veio se arriscando desde então eram (e ainda são) alguns dos que mais demandam investimentos no Brasil: mineração, petróleo, logística e portos. Quem nunca ouviu falar do nosso gargalo de infraestrutura?

Eike, sonhador, queria construir o Brasil que o mundo todo passou a admirar. A potência emergente que há poucos anos havia quitado toda sua dívida externa; superado, sozinha, o fantasma da hiperinflação e que naquele momento começava, finalmente, a distribuir renda, tirando milhares de brasileiros da miséria com as inúmeras bolsas petistas. Goste ou não do PT, eles souberam marketear isso muito bem de modo que esse é o marco inegável da "era Lula", continuada agora pela pobre Dilma, que está pulando miudinho por ter herdado a batata quente dos antecessores: o povo acordou!

Mas o assunto de hoje é o Eike. Ele soube, como poucos, fazer gente grande e importante acreditar nele e conseguiu grandes investimentos, primeiro privados e depois públicos, para o seu império de... nada! Ele não tinha nada e deixou isso muito claro. Ninguém pode dizer que foi enganado. As condições estavam bem transparentes e, no mercado, como todo mundo sabe, não há garantias de ganhos. Só tendências e talvez um pouco de sorte.

O problema foi o azar: não deu! O tempo passou, as metas, uma após a outra, não foram cumpridas e o mercado finalmente começou a desconfiar do bilionário da Forbes, do cara que fez a Luma de Oliveira desfilar de coleirinha no Carnaval, do filho de um player fantástico do setor de Mineração e ex-ministro de Minas e Energia no Brasil durante o período militar.

Vale lembrar que a empolgação com as promessas do Eike foi tanta que teve até gente que acreditava que o pai dele havia deixado um mapa do subsolo brasileiro. Não duvido que tenha gente que comprou as ações de suas empresas também por isso.

Mas quanto maior o voo, maior o tombo. Um levantamento do jornal Valor Econômico mostrou que as seis companhias do grupo EBX perderam, juntas, R$ 110 bilhões em valor de mercado desde o melhor momento na bolsa até recentemente. Para quem está curioso, o valor de mercado atual das empresas está em torno de míseros R$ 9 bilhões.

Outro cálculo que chama a atenção é do Estado de S.Paulo, que aponta que quem investiu R$ 5 mil na OGX em 2008, quando as ações da empresa começaram a ser negociadas na bolsa, tem hoje pouco mais de R$ 200.

Classe média sofre... Mas Eike não. Sua fortuna hoje está bem longe dos US$ 34,5 bilhões que o colocaram no top 10 das maiores fortunas do mundo.

Mas com os US$ 2,9 bilhões que lhe restaram, acho que ainda dá muito bem para pagar a multa de R$ 1 milhão que seu filho Thor foi condenado a pagar depois de ter atropelado o ciclista no Rio... e também os aneis de brilhantes que seu caçula Olin costuma dar para as namoradas. Ah, e como esquecer, para criar seu novo herdeiro que está para nascer.

E ainda dizem por aí que o Eike estava na pior... pohannn!




segunda-feira, 1 de julho de 2013

Bolsa é o pior investimento do ano; dólar é o melhor. E daí?

O primeiro semestre acabou e uma notícia curiosa pipoca no noticiário econômico: a Bovespa foi o pior investimento do ano e o dólar o melhor. Mesmo que você não invista pesado e arrisque no máximo uma poupancinha deveria saber que essas notícias têm um impacto possivelmente maior do que você imagina sobre a sua vida.

O péssimo desempenho da bolsa (queda de mais de 20% nos seis primeiros meses do ano) é um bom reflexo do ritmo fraco da economia brasileira, movida em grande parte pelas empresas que têm ações negociadas na Bovespa. Não foi à toa que as más línguas apelidaram recentemente o PIB, medida padrão do desempenho da economia de um país, brasileiro de "pibinho".

Aquele otimismo sobre o Brasil emergente, o Brasil do pré-sal, o Brasil que vai receber a Copa e as Olimpíadas foi revertido em uma onda de manifestações que atravessa o país. O fôlego que o crédito fácil e barato nos deu nos últimos anos está acabando. Hoje, só ouvimos falar das duas consequências negativas dessa medida: a inadimplência, que nunca esteve tão alta, e a inflação, que nunca deixou de ser um pesadelo.

Falando em inflação, o dólar, por sua vez, é o melhor investimento do ano até agora (subiu quase 10% em seis meses). Apesar de essa informação vir com roupa de boa notícia, provavelmente não é uma boa notícia para a maioria. Para mim, e provavelmente para você também, o relacionamento com o dólar não é em forma de investimento.

Então para nós, pobres mortais, o dólar está, no máximo, "subindo pra caramba", o que significa que as viagens para o exterior começam a parecer cada vez menos convidativas e também que alguns produtos tendem a ficar mais caros, como os eletroeletrônicos, que possuem componentes importados, e, em breve, talvez até o pãozinho e a gasolina.

Para quem não sabe, somos grande importadores de trigo e, apesar de sermos autossuficientes em petróleo, também acabamos importando um pouco para compensar o que exportamos. Sem contar que tanto o trigo quanto o petróleo são commodities. E commodities são cotadas em dólar por serem negociadas no mercado internacional, logo, seus preços são influenciados diretamente pelas oscilações da moeda norte-americana.

E essa alta do dólar acaba refletindo a incerteza que toma conta também dos mercados internacionais. A crise europeia ainda vai longe, a China também já não está em sua melhor forma (os pobrezinhos prevêem crescimento de "apenas" 7,5% neste ano) e os EUA, apesar de darem alguns sinais de recuperação, ainda são os EUA: com taxa de desemprego elevadíssima e uma dívida pública astronômica.


Fica a dica para quem vai viajar para o exterior em breve: a hora de comprar dólar é agora. No Brasil, o Banco Central tem atuado todos os dias para tentar conter a tendência de alta da moeda. E para ajudar, além do cenário de incertezas, há indícios de que os EUA devem parar de injetar dólares na economia do país, prática que tem sido feita desde a crise de 2008 e 2009.

Se isso acontecer, os temores de que faltem dólares no mercado podem se concretizar. E aí, meus queridos, o céu é o limite. No começo do ano, o dólar estava na casa dos R$ 2,05. Agora, já passou dos R$ 2,20.

E o euro, meu Deus? Segue a onda global de busca por moedas mais fortes (apesar de não sabermos até quando a moeda de um bloco econômico praticamente falido será considerada forte) e já flerta com a casa dos R$ 3,00!!! É, Paris vai ter que esperar.