Briga de gigantes. E ele, como sempre, irreverente. Não esqueço a forma como ele respondeu o Pedro quando ele fez uma piadinha sobre o fato de o Eike ter acabado de ser anunciado o oitavo homem mais rico do mundo pela Forbes:
--- Isso porque eu não sou banco. São vocês que estão no topo da cadeia alimentar.
O risinho sem graça do Pedro foi impagável. Afinal, tem melhor definição para uma empresa que capta dinheiro na poupança remunerando no máximo a 0,6% ao ano e empresta dinheiro a pelo menos 5%, 6%? A diferença desses percentuais chama-se spread bancário: o intervalo entre o quanto o banco paga para emprestar dos outros e o quando cobra para emprestar para os outros.
Em resumo, é assim que os bancos ganham MUITO dinheiro, o que explica o lucro exorbitante deles (que, para quem não sabe passa dos R$ 10 bilhões anuais). É ou não é o topo da cadeia alimentar?
Goste ou não do Eike, não dá para dizer que ele não é foda. Depois de 2008, enquanto o mundo desenvolvido desabava no desespero, o Brasil não enfrentava só uma simples "marolinha" do Lula. Mas o fato é que, em comparação aos EUA e à Europa, surfamos muito bem a onda da crise.
E lá estava o Eike, todo pomposo, aproveitando o bom momento do Brasil que decolava na capa da The Economist, dando início à captação de recursos para os seus gananciosos projetos de infraestrutura e logística.
Agora me digam: onde conseguir dinheiro para realizar o sonho do negócio próprio? Para nós, pobres mortais, com quem está no topo da cadeia alimentar, certo? Mas não para Eike. Ele foi até a bolsa e convenceu muito investidor marmanjo a injetar milhões nas primeiras empresas que dariam origem ao suntuoso grupo EBX (a letra X está presente nos nomes de todas as empresas do grupo por ser um fator multiplicador).
Suntuoso porque as empresas que nasciam ali, cheias de guidances (projeções, metas) e nenhuma produção até então, demandavam investimentos pesados. Os setores em que Eike veio se arriscando desde então eram (e ainda são) alguns dos que mais demandam investimentos no Brasil: mineração, petróleo, logística e portos. Quem nunca ouviu falar do nosso gargalo de infraestrutura?
Eike, sonhador, queria construir o Brasil que o mundo todo passou a admirar. A potência emergente que há poucos anos havia quitado toda sua dívida externa; superado, sozinha, o fantasma da hiperinflação e que naquele momento começava, finalmente, a distribuir renda, tirando milhares de brasileiros da miséria com as inúmeras bolsas petistas. Goste ou não do PT, eles souberam marketear isso muito bem de modo que esse é o marco inegável da "era Lula", continuada agora pela pobre Dilma, que está pulando miudinho por ter herdado a batata quente dos antecessores: o povo acordou!
Mas o assunto de hoje é o Eike. Ele soube, como poucos, fazer gente grande e importante acreditar nele e conseguiu grandes investimentos, primeiro privados e depois públicos, para o seu império de... nada! Ele não tinha nada e deixou isso muito claro. Ninguém pode dizer que foi enganado. As condições estavam bem transparentes e, no mercado, como todo mundo sabe, não há garantias de ganhos. Só tendências e talvez um pouco de sorte.
O problema foi o azar: não deu! O tempo passou, as metas, uma após a outra, não foram cumpridas e o mercado finalmente começou a desconfiar do bilionário da Forbes, do cara que fez a Luma de Oliveira desfilar de coleirinha no Carnaval, do filho de um player fantástico do setor de Mineração e ex-ministro de Minas e Energia no Brasil durante o período militar.
Vale lembrar que a empolgação com as promessas do Eike foi tanta que teve até gente que acreditava que o pai dele havia deixado um mapa do subsolo brasileiro. Não duvido que tenha gente que comprou as ações de suas empresas também por isso.
Mas quanto maior o voo, maior o tombo. Um levantamento do jornal Valor Econômico mostrou que as seis companhias do grupo EBX perderam, juntas, R$ 110 bilhões em valor de mercado desde o melhor momento na bolsa até recentemente. Para quem está curioso, o valor de mercado atual das empresas está em torno de míseros R$ 9 bilhões.
Outro cálculo que chama a atenção é do Estado de S.Paulo, que aponta que quem investiu R$ 5 mil na OGX em 2008, quando as ações da empresa começaram a ser negociadas na bolsa, tem hoje pouco mais de R$ 200.
Classe média sofre... Mas Eike não. Sua fortuna hoje está bem longe dos US$ 34,5 bilhões que o colocaram no top 10 das maiores fortunas do mundo.
Mas com os US$ 2,9 bilhões que lhe restaram, acho que ainda dá muito bem para pagar a multa de R$ 1 milhão que seu filho Thor foi condenado a pagar depois de ter atropelado o ciclista no Rio... e também os aneis de brilhantes que seu caçula Olin costuma dar para as namoradas. Ah, e como esquecer, para criar seu novo herdeiro que está para nascer.
E ainda dizem por aí que o Eike estava na pior... pohannn!