quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Pegadinha da malandra? Vamos pensar um pouco?


Tem bastante gente compartilhando nas redes sociais uma montagem da Dilma dando a entender que o desconto na conta de luz apenas compensa o aumento dos preços da gasolina. Um bate e assopra.


Não estou aqui para julgar se existe interesse político no fato de as duas medidas terem sido simultâneas. Cada um tem sua opinião. Mas, eu tenho minhas dúvidas se a galera que está compartilhando realmente sabe em que contexto elas aconteceram.

O primeiro ponto é que nenhuma das duas medidas é uma surpresa, ou pelo menos não deveria ser para quem acompanha o noticiário. Tanto o desconto da conta de luz quanto o aumento dos preços da gasolina vem sendo debatido pelo mercado e sinalizado pelo governo há pelo menos um ano.

A questão do desconto na conta de luz foi anunciada em setembro do ano passado pela própria Dilma em um pronunciamento em rede nacional. Eu até a cheguei a comentá-lo aqui no blog (Depois dos bancos e do setor elétrico, qual será o próximo alvo da Dilma?).

A iniciativa faz parte de um dos principais programas do atual governo que é justamente estimular o crescimento do país através de duas vertentes críticas na história do Brasil: redução de juros e investimento em infraestrutura. É importante lembrar que o desconto na conta de luz não afeta somente eu e você. Afeta também todas as empresas brasileiras. E a lógica é simples: com menos gastos, sobra mais dinheiro para investir no negócio e, consequentemente, a economia cresce.

Já a questão do aumento dos preços da gasolina, tem um cenário internacional por trás. A gasolina vem do petróleo, que é uma commodity, ou seja, uma matéria-prima que é negociada internacionalmente em dólar. Logo, seus preços, mais dia ou menos dia, fatalmente têm que acompanhar o exterior.

Nossa Petrobras é uma multinacional, logo, também participa desse comércio internacional. E já há algum tempo os jornais e a própria estatal vêm sinalizando que os preços do petróleo brasileiro estavam defasados em relação aos preços praticados no exterior. Nossos preços estavam (e ainda estão, na verdade! O repasse não foi integral!) mais baratos e a Petrobras, uma de nossas maiores empresas, estava perdendo dinheiro. Isso quem está dizendo são especialistas do mercado de petróleo e não o governo.

Vale lembrar também da medida recém-anunciada (mas que também já era antecipada desde o ano passado), que aumentou a parcela de etanol na gasolina de 20% para 25%. Essa ação também foi de caso pensado para ajudar a atenuar o aumento dos preços da gasolina. O etanol é mais barato. Não vi nenhuma charge sobre isso ainda.

Por fim, a gasolina brasileira realmente é mais cara que a dos Estados Unidos, mas ainda mais barata que a da Europa. Assim, dá para ver que não estamos tão descolados assim do mundo. Cada país tem sua realidade.

Não dá para a gente ficar compartilhando coisas simplesmente por compartilhar. Ter uma visão crítica em relação às ações políticas é um hábito louvável e de gente inteligente, de um povo que está de olho em seus representantes. Mas as críticas devem sempre ser fundamentadas para serem fortes.

Bora falar sobre esse assunto, sim, mas com conhecimento de causa!

4 comentários:

  1. Brasil, o maior produtor de petróleo, não deveria ter um preço menor sempre?

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    1. Não necessariamente. Em Economia, muitas vezes que falamos em "perder", estamos nos referindo a "deixar de ganhar".

      Imagine que você é um vendedor de suco em um mercado com 10 concorrentes. O preço médio do copo de suco é R$ 5,00. Ou seja, um vende a R$ 4,80, porque está chegando agora no mercado e quer ganhar clientes. O outro vende a R$ 5,20, porque a embalagem que ele comercializa é diferente da dos outros, preserva o suco fresquinho por mais tempo.

      Você vai vender o suco a R$ 0,50? É o que a Petrobras estava fazendo. É essa a ideia. Todos os concorrentes que praticam o preço justo (não no sentido moral, mas no sentido de equilíbro do mercado), conseguem mais dinheiro. E parte desse dinheiro é a que será utilizada para investirem no próprio negócio por exemplo. Resultado no longo prazo se a Petro não pareia os preços: todo mundo cresce, menos ela.

      Outro ponto é importante é que adquirimos, sim, a autossuficiência em petróleo há alguns anos, mas isso não significa que todo petróleo que consumimos é produzido no Brasil.

      Uma parte dessa produção é exportada, ou seja, no fim, acabamos importando também para conseguir fechar nossa demanda. Mais um motivo para não fazer sentido vendermos o "nosso suco" a R$ 0,50, enquanto compramos a R$ 5,00, certo?

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  2. Show de bola! Obrigado pela resposta! E parabéns pelo blog... mto bom!

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    1. Eu é que agradeço. :)
      Seja sempre bem vindo por aqui.

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